O amargo gosto do furto

O amargo gosto do furto

No Brasil, o café é mais do que uma bebida: é cultura, tradição, economia e identidade. No Sul de Minas Gerais, onde estão alguns dos mais renomados cafezais do mundo, o café não apenas sustenta famílias e movimenta mercados – ele também molda o ritmo da vida rural. Mas, nos últimos tempos, essa tradição vem sendo ameaçada por um problema crescente e alarmante: os furtos de café.

A situação é tão grave que produtores da região, cansados de prejuízos sucessivos, têm sido forçados a investir em segurança privada, contratando empresas especializadas para realizar rondas noturnas, instalar câmeras de monitoramento e sensores de movimento nas lavouras. O cenário, que antes se restringia ao imaginário urbano, agora se repete entre os cafezais. A lavoura que já exigia cuidado contra pragas, clima e oscilação de preços, agora também exige vigilância armada.

Essa realidade escancara uma ferida antiga da zona rural brasileira: a ausência do Estado. A segurança pública no campo é frequentemente negligenciada, tratada como uma preocupação secundária, como se a criminalidade rural fosse menos grave ou menos urgente do que aquela das cidades. Mas os números mostram o contrário. Só uma única saca furtada pode representar centenas de reais em prejuízo, e quando o furto se dá em grande escala – como tem ocorrido em várias propriedades da região – os danos são devastadores.

Em muitos casos, os ladrões agem com organização, informação privilegiada e até equipamentos próprios para transporte rápido das sacas. Chegam durante a madrugada, escolhem os lotes mais valiosos, e somem antes do amanhecer. Não é exagero dizer que muitos desses crimes têm características semelhantes às de quadrilhas especializadas.

Para os pequenos e médios produtores, o impacto é ainda mais cruel. Além do prejuízo financeiro imediato, há o aumento dos custos operacionais para contratar segurança e a constante tensão de se trabalhar sob o risco. A insegurança se alastra, minando a confiança e desestimulando o investimento em produção. É um ciclo perverso.

Por outro lado, vale destacar a resiliência do produtor rural mineiro. Mesmo diante das adversidades, muitos seguem investindo, inovando e protegendo aquilo que plantam com tanto esforço. Mas a conta não pode continuar sendo paga apenas pelo agricultor. É preciso que o poder público, em todas as esferas, assuma sua responsabilidade com mais seriedade.

Programas de policiamento rural, incentivos à tecnologia de monitoramento, investigação especializada e, principalmente, políticas públicas que valorizem e protejam a agricultura são urgentes. O agronegócio é frequentemente celebrado como motor da economia nacional – e com razão. Mas o setor não pode ser lembrado apenas nos discursos e esquecido nas ações práticas.

O Sul de Minas precisa de segurança para seguir sendo celeiro de qualidade e tradição. Os cafezais não podem se transformar em terrenos de disputa com o crime. O produtor não pode viver sob constante ameaça, nem arcar sozinho com os custos da ineficiência estatal. Chegou a hora de levar a segurança no campo tão a sério quanto o sabor do nosso café.

Porque um país que não protege quem planta, colhe o amargo.