Câmara de Itapuí: Gabi, Carlinhos, Oberlei, Matheus e Bertinho blindam gestão Clélia-Mecha de dar explicações sobre “carona” de ambulância até Limeira para velório e rescisão de funcionários do hospital, ao rejeitarem requerimentos da oposição

Dois requerimentos e um projeto de lei complementar, matérias assinadas pelos vereadores Juliano Maia (MDB), Rafael Ficcio (PL) e Rita Xavier (PL), acabaram arquivados por 5x3 votos na sessão ordinária desta segunda-feira (26), da Câmara Municipal de Itapuí.
Novamente, uma sessão camarária de Itapuí ilustrou a clara polarização existente entre situação e oposição no Legislativo itapuiense: Gabi da Saúde (Podemos), Carlinhos Areas (PSD), Oberlei da Silva (Podemos), Matheus Aranha (Republicanos) e Bertinho (PRD), parlamentares considerados da base da administração Clélia-Mecha, foram contrários às propostas da oposição. Também da base, o presidente da Câmara Valdir Castanho, o Cavera, não precisou votar já que não houve empate.
No requerimento nº. 47/2025, Juliano Maia pediu informações à prefeita Maria Clélia Viaro Pichelli (PSD), sobre a empresa terceirizada (Associação de Benemerência Senhor Bom Jesus), que está gerindo o Hospital e Maternidade São José desde janeiro. À chefe do Executivo, Juliano solicitou que fossem enviadas à Câmara Municipal os seguintes documentos:
1. Cópia do contrato aditivo assinado no mês de fevereiro de 2025 entre o município e a empresa responsável pela administração do hospital municipal;
2. Relação completa dos funcionários contratados a partir da vigência desse contrato;
3. Informações detalhadas sobre quais funcionários terão direito à correção salarial, caso ocorra a troca da empresa responsável pela administração do hospital.
Firmado em janeiro de forma emergencial (com dispensa de licitação), pelo valor global de R$ 4.661.748,42 (quatro milhões, seiscentos e sessenta e um mil, setecentos e quarenta e oito reais, quarenta e dois centavos), o contrato celebrado entre Prefeitura de Itapuí e Associação de Benemerência Senhor Bom Jesus, tem validade de três meses, prorrogáveis por mais três. Nesse período máximo de seis meses de vigência, a prefeitura de Itapuí deverá formalizar licitação para contratar uma nova empresa gestora, como determina a lei.
Com o prazo de seis meses do contrato emergencial se encerrando em 30 de junho (em exatamente um mês), os funcionários terceirizados que prestam serviço para a Associação de Benemerência Senhor Bom Jesus desde janeiro, temem que ocorram demissões em massa, com a chegada de uma nova empresa (a futura vencedora da licitação). Com isso, os terceirizados procuraram os vereadores para pedirem ajuda, com dúvidas de como ficará a situação após 30 de junho.
Na deliberação, Juliano citou áudios vazados que teriam causado apreensão nos funcionários terceirizados. As mídias, associadas à gestora da empresa Associação de Benemerência Senhor Bom Jesus, teriam sido enviadas aos funcionários via WhatsApp.
“Teve alguns áudios vazados, em nome da administradora do hospital, falando sobre o recebimento. Áudios confusos, onde ela dizia que não teria acerto de salário, que não tinha prometido nada... acredito na transparência. A transparência só existe em documentos, não tem em outros meios. Os funcionários merecem respeito, merecem que a empresa arque com suas despesas. Minha preocupação é devido aos áudios; fico preocupado com a troca da empresa, pois não sabemos como será. Muitos funcionários nos procuram perguntando sobre esse acerto referente aos áudios. Nós, vereadores, estamos aqui para lutar por justiça por esses funcionários”, justificou o autor do requerimento.
Um dos áudios em questão passa a seguinte mensagem: “em momento nenhum foi garantido que vocês receberiam rescisão de contrato da empresa (...). Em momento nenhum foi falado a respeito de acerto ou foi afirmado que vocês receberiam acerto. Para as pessoas que me perguntaram, eu falei que poderia ser que sim, mas que não era certeza. Em momento nenhum eu falei que já acabou o contrato. Não fiquem fazendo planos; nas gastem esse dinheiro porque não é uma certeza. Não fiquem fazendo contas com esse dinheiro porque ele não existe”.
Carlinhos Areas, fazendo o uso da Palavra, também comentou sobre o assunto. O vereador disse que conversou a administradora da empresa Associação de Benemerência Senhor Bom Jesus, a autora dos áudios que deixaram os funcionários ainda mais confusos pela incerteza do pagamento da possível rescisão.
“Ela me disse que está disponível para conversar com os vereadores e conversar certinho, pois não é da forma como o áudio se espalhou. Eu creio que a nova empresa vai continuar com os funcionários”, disse Carlinhos, único vereador contrário ao requerimento de Juliano a se manifestar verbalmente para explicar o voto.
“Carona” até Limeira para velório
O segundo requerimento rejeitado por maioria (nº 50/2025), é de autoria de Rafael Ficcio. O nobre pediu que a prefeitura explicasse “a legalidade das viagens realizadas nos dias 17 e 18 de maio até a cidade de Limeira, com os veículos Onix (placa FYC 4634) e ambulância (placa DWU 9104)”.
Rafael solicitou ainda “informações sobre qual foi a finalidade da viagem e o custo para o município, incluindo: combustível, pedágio e motorista”.
Novamente, Juliano Maia usou a palavra para comentar a polêmica. Informações extraoficiais que circularam pelo município, alegam que os veículos oficiais da frota municipal transportaram uma munícipe até Limeira, para que ela participasse do velório e funeral de um familiar: o Onix teria levado a passageira em um dia, enquanto uma ambulância buscou a mesma pessoa no dia seguinte ao rito funerário. Além dos veículos, a “carona” realizada no sábado (ida) e domingo (volta), teria mobilizado funcionários públicos (motoristas) e gastos com combustível.
“Sabemos que ocorreu o transporte até a cidade de Limeira para um velório. Temos que ter compaixão com a dor do próximo; sabemos como é duro perder um ente querido. Porém, tem que saber quais munícipes que se enquadram nesse tipo de serviço, enquadrar esse tipo de trabalho no nosso município, ver se o munícipe possuiu condição ou não, fazer um estudo de trabalho para esse serviço. Caso contrário, é politicagem! Usar a máquina pública para fazer politicagem? Não vejo com bons olhos; assistencialismo é outra coisa. Nós, vereadores, temos que estipular regras, dar moralidade para que todos recebam o mesmo benefício com justiça, não só beneficiar os apoiadores da prefeita. Todos os cidadãos devem ter os mesmos benefícios, para que todos possam ser iguais. Quero saber por qual motivo isso aconteceu. Uma viagem a Limeira não é tão caro... se o munícipe não tinha condições e pediu um favor, por que a prefeita não pegou o carro dela e usou o combustível dela? Agora, usar uma ambulância? Não sou contra esse tipo de serviço, mas se quiserem implantar, que seja por meio de lei e que seja para todos”, opinou Juliano.
Novamente único vereador que votou contra o requerimento a se manifestar, Carlinhos Areas sugeriu que Juliano e Rafael procurem o Setor Social do Município para obterem os esclarecimentos. Entrando em contradição (já que o requerimento, se fosse aprovado, poderia ser destinado ao Social para a resposta oficial pedida por Rafael), o nobre disse que vai buscar a informação no departamento.
Em silêncio, vereadores rejeitam projeto de resolução
A vereadora Rita Xavier propôs o Projeto de Resolução nº 6 de 2025, que “disciplina a emissão de pareceres pelos órgãos da Câmara Municipal de Itapuí, e dá outras providências”.
Totalmente técnico, o objetivo da matéria era permitir que os vereadores solicitassem pareceres sobre os projetos de lei que estão tramitando à Procuradoria Jurídica da Câmara, que teria o prazo de 15 dias para apresentar o parecer solicitado. Isso facilitaria o conhecimento dos vereadores sobre o viés jurídico das matérias.
O projeto ainda estipulava que “os projetos recebidos do Poder Executivo deverão vir acompanhados de Parecer da Procuradoria Jurídica da Prefeitura Municipal”, garantindo assim mais respaldo jurídico às propostas analisadas pelo Legislativo.
Sem nenhuma justificativa verbal, Gabi, Carlinhos, Oberlei, Matheus e Bertinho votaram contra o projeto de Rita, em completo silêncio.
Juliano x Oberlei
Durante a Palavra Livre, a tribuna da Câmara Municipal de Itapuí foi palco de uma troca de farpas entre os vereadores Oberlei Silva e Juliano Maia. Primeiro a usar a palavra, Oberlei acusou Juliano de “fazer politicagem”, pelo fato do vereador ter apresentado um projeto que prevê o repasse de incentivo financeiro aos agentes de saúde.
Nas redes sociais, Oberlei também comentou o assunto. “Não podemos transformar esse direito em palco político. O recurso é federal, e o município apenas repassa. Não é conquista individual de vereador nenhum”, publicou.
Em resposta afiada, Juliano, rebateu o comentário de Oberlei com ênfase, citando inúmeras situações dentro do governo Clélia-Mecha que, na opinião dele, são claros exemplos de “politicagem”.
“Politicagem é fazer vídeo comemorando a chegada de uma retroescavadeira e esconder da população que o mérito é da gestão anterior. Politicagem é querer os louros da fama, mesmo sem ter feito nada por merecer. Politicagem é dizer ‘nossa gestão’ referindo-se ao Executivo”, disse o vereador.
Juliano também citou viagens da prefeita e de sua comitiva, incluindo vereadores, alegando que não há prestação de contas como mais um exemplo de politicagem.
O embate viralizou nas redes sociais. Uma mensagem de autoria anônima, enviada de forma massiva via WhatsApp, diz que Juliano agiu “com firmeza, desmascarou a hipocrisia e deu uma verdadeira aula sobre o que é, de fato, fazer politicagem”.
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